Abrace uma Memória
Descrição da Obra
O fotógrafo não apenas vê, o fotógrafo também ouve.
Ao ouvir muitas pessoas que perderam tudo nesta tragédia, uma expressão me
marcou: “quando a água baixar…”.
“Quando a água baixar aí veremos o caos…”
“Quando a água baixar o que será da minha família…”.
“Quando a água baixar dezenas de corpos serão encontrados…”.
“Quando a água baixar terei que encarar a realidade…”.
“Quando a água baixar não serei mais quem um dia fui…”
Estes rostos e palavras me perseguiram por muitos dias e noites.
Até que fui ao encontro do único silêncio que conheço, o silêncio das imagens.
Imagens que eu resolvi fazer sem qualquer pretensão, apenas para reconhecer a dor do outro bem de perto, com a devida atenção que só a fotografia pode oferecer. Foi ao escutar o depoimento de uma senhora que lamentava mais do que tudo a perda dos seus álbuns de família, da sua memória afetiva, que pensei em tentar vender as fotos da tragédia para realizar um projeto diferente, uma ação que pudesse ofertar doações no período mais crítico e no momento de reconstrução pudesse devolver àquela senhora uma fotografia da sua família.
Assim nasceu o projeto "Quando a água baixar…”, com ele pretendemos chegar a muitos lugares do Rio Grande do Sul, para ver o que este pesadelo nos forçou a ver, para ouvir as histórias que precisam ser contadas e para entregar uma fotografia impressa em um bom papel que, espero, venha a simbolizar um recomeço.
English Version:
The photographer doesn't just see, the photographer also hears.
Listening to many people who have lost everything in this tragedy, one expression struck me
“When the water recedes...”.
“When the water recedes, we'll see chaos...”
“When the water recedes, what will become of my family...”.
“When the water goes down dozens of bodies will be found...”.
“When the water goes down I'll have to face reality...”.
“When the water recedes I will no longer be who I once was...”
These faces and words haunted me for many days and nights.
Until I found the only silence I know, the silence of images.
Images that I decided to make without any pretension, just to recognize the pain of others up close, with the attention that only photography can offer. It was when I heard the testimony of a lady who regretted more than anything the loss of her family albums, of her emotional memory, that I thought of trying to sell the photos of the tragedy in order to carry out a different project, an action that could offer donations in the most critical period and at the moment of reconstruction could give that lady back a photograph of her family.
This is how the “When the water recedes...” project was born. With it, we intend to reach many places in Rio Grande do Sul, to see what this nightmare has forced us to see, to hear the stories that need to be told and to deliver a photograph printed on good paper that, I hope, will symbolize a fresh start.
Fabrício Simões